quinta-feira, 4 de outubro de 2012

FIFTY SHADES OF GREY

Uma leitura de férias.

Esse era o interesse pelo livro recomendado por uma amiga. "Fifty Shades of Grey" seria uma leitura relaxante, um romance denso, apimentado pelo erotismo da narrativa. A esperança é de que seria o alento para derrubar as tristes experiências de um setembro afetivamente tenebroso.

"Cinquenta Sombras de Grey", não me surpreendeu pela intensidade erótica, tão debatida com as amigas e entre as amigas das amigas. De uma forma ou de outra, a maior parte dos adultos, que esteja bem resolvida sexualmente, já viveu, pelo menos em intensidade, um relacionamento parecido com o de Anastacia Steele e Christian Grey. O que mexeu intensamente comigo foi a estória, afinal, não somos todos sujeitos de sombras desconhecidas dos outros e de nós mesmos?

Somos todos iniciantes quando se trata de amor. Tudo começa num encontro... O olhar que revela o interesse. O primeiro passo em direção ao estranho e desconhecido. Perguntas e respostas superficiais. Tímidos vislumbres de cores e sombras. O toque que revela o desejo e a afinidade dos corpos. E, por fim, o reconhecimento de almas ... Não é assim que se instala o que convencionamos chamar de amor?

Com sorte, teremos algum tempo para aprender todas as nossas nuances e as daqueles a quem amamos, sem ela, o tempo é nosso inimigo. Antes que possamos descobrir quanto da dor do outro nos afeta em sofrimento e como seremos capazes de lidar com os medos que essa dor nos desperta, a fragilidade do afeto em nascedouro rompe os laços do amor iniciado. Quanto mais experiências de dor acumulamos, mais nos é difícil ignorar o medo de sofrer.

O conhecimento ... Uma maldição bíblica, que nos coloca a difícil escolha de discernir (consciente ou inconscientemente) entre o bem e o mal que queremos para nós mesmos. A difícil escolha pelo risco de sofrer um desconhecido sentimento que nos confunde e nos fragiliza e contraditoriamente nos fortalece e alimenta emocionalmente para a vida em todas as suas cores. Frente ao vislumbre do amor se coloca a possibilidade de viver intensamente o que vier ou fazer morrer intensamente a possibilidade do vir a ser.

Não seria mais fácil se todos aqueles apegados à dor trouxessem consigo, tal qual o apaixonante Mr. Grey, a lista de suas esquisitices e a clareza de que as sombras de suas almas os fazem ter o desejo de machucar quem mais querem amar? Quem sabe assim, um contrato de relacionamento, que vai se desfazendo e refazendo frente ao fortalecimento da cura pudesse ser entendido como o caminho do que se constrói como amor, reformulando o que se convencionou dizer o que é o amor.

É preciso estar empenhado em desejar o diferente para fazer acontecer. O sentimento se acostuma com o conhecido hábito de sofrer e esquece o caminho dos pequenos vislumbres de felicidade que só a convivência amorosa e a ousadia de ultrapassar todos os limites de segurança promovem. “This reminded me of a happy time”, escreve Anastacia ao despedir-se. Essas palavras lembram o tempo em que a inocência da crença do amor inabalável e eterno não tinha sido destruída pelas experiências de um amor incondicional que fracassou. E se era incondicional ... que condição o retirou de sua certeza de permanência e o fez fracassar?

O que dizemos querer e o que expressamos por meio de nossa partes sombrias ... Somos sábios sem saber. O que nos ameaça nos assusta e o que nos assusta nos ameaça. Sofremos porque não sabemos viver sem o outro ou a dor se torna nosso modo de viver e nos faz sofrer nos afastando dos outros?

Se o amor os colocar frente à frente ... Os doloridos se reconhecem. Conhecem desconhecendo as possibilidades da cura de suas dores e buscam no que viveram (no passado) o meio para lidar com o desconhecido caminho que se apresenta. Bem dizia S. Freud, aquele que sofre está em sofrimento por sofrer de reminiscências ...

Amadurecer é fazer a escolha por se desapegar daquela antiga forma de resolver as coisas que não funciona, é se propor a refletir sobre o que de nós afeta quem nos importa e construir o novo. E isso é sombriamente assustador... Por vezes, fugir do amor dói menos do que se arriscar e desapegar da dor com a qual convivemos ...

Nenhum comentário:

Postar um comentário