segunda-feira, 28 de março de 2011

Feios Sujos e Malvados





título original: (Brutti Sporchi e Cattivi)
lançamento: 1976 (Itália)
direção: Ettore Scola
atores: Nino Manfredi, Maria Luisa Santella, Francesco Anniballi, Maria Bosco.
duração: 115 min
gênero: Drama
status: Arquivado

Feios, Sujos e Malvados - Cartaz


Sinopse: Roma, Itália. Giacinto Mazzatella (Nino Manfredi) vive em um barraco com sua esposa, dez filhos e diversos outros parentes. Devido ao pouco espaço disponível, eles dormem praticamente um ao lado do outro. Giacinto guarda uma boa quantia em dinheiro mas, temendo ser roubado, sempre o mantém escondido. Isto irrita sua família, que não pode usá-la para melhorar um pouco de vida. A situação chega ao limite quando Giacinto leva para casa sua amante, o que faz com que a família passe a planejar seu assassinato.


O MEU INCÔMODO ... DE ONDE VEIO?

A sinopse retrata bem o enredo em linhas gerais. Nos pormenores, temos uma família aglutinada, pouco individuada, dependente e à espera da riqueza daquele que provê ao grupo a motivação para ser, estar e permanecer como entidade familiar. Giacinto perdeu parte de sua visão e com ela uma riqueza inesperada o acometeu. Todos os filhos, genros, noras, netos e outros parentes, resolveram ficar parados frente à vivência do tempo de suas histórias e no espaço da mísera casa, à espera do usufruto de parte da riqueza, que Giacinto esconde e não compartilha.

A casa, composta de um cômodo aberto, expõe não a intimidade das pessoas, mas a falta de limites entre as mesmas, todos compartilham de tudo a comida, as roupas, os objetos, os corpos, a infelicidade, a mesma incapacidade do olhar para si e para fora do mundo restrito das limitadas relações familiares estabelecidas.

São feios e sujos no aparente e malvados nas ações, principalmente quando agem sem finalidade ou objetividade para a constituição de suas individualidades, são assim para consigo mesmos, mais do que para com os outros. Adjetiva-se o que se quer qualificar ou desqualificar, e como constante, os personagens desta estranha família, desqualificam-se tentando qualificarem-se como pessoas. 

Giacinto, o provedor, sonha com melhores condições aos filhos, mas não quer que esta venha de si, cada um poderia ter o que almeja por seus próprios meios. Ressente-se porque ao perder parte da visão, os viu como são, dependentes e imaturos afetivamente, assim como ele. Viu que os olhares que estes outros têm sobre si está no que ele pode lhes dar. Só que ele não tem nada para dar além da riqueza que guarda sem querer ou poder "compartilhar".

Mesmo com tantas controvérsias e muitos episódios de violência, vive-se em paz na mais santa anormalidade. Tudo muda quando Giacinto conhece uma mulher da vida, uma versão mais jovem e mais sensual de sua própria esposa. Não só a leva para casa como permite que esta usufrua de sua riqueza. Sua esposa, assim, decide que há a necessidade de que ele morra. Nesse momento, sabe-se da existência de mais um filho, aquele que fugiu deste ciclo e que individualizou-se. É na casa dele que decidem matar o pai, após o batismo do neto que leva seu nome, Giacinto.

Matar o pai não é uma coisa fácil. Mesmo que os filhos tentem envenená-lo, ele não morre.  Salva-se e volta para a mísera vida mais feio, mais sujo e mais malvado e todos continuam a viver sob sua dependência, e a vida se repete no mesmo ritmo e condições de antes, só que com mais uma família agregada.

Bem ... quase uma hora depois do filme eu ainda não conseguia comentar nada sobre ele. O cenário e a ambientação do filme trazem um certo distanciamento da realidade e colocam uma falsa barreira social no que é conteúdo. Porém, trocados os figurinos e o cenário, esta poderia ser uma família que "mora" com a minha. Até que ponto somos mesmo individuados frente às nossas histórias familiares e até que ponto nos impregnamos das impossibilidades desta separação. Estou com enxaqueca desde o almoço de família ontem ... E haja terapia!